RAMPA PUC CAMPINAS

Instalados dentro do campus 2 da PUC de Campinas, interior de São Paulo, os dois edifícios foram desenhados pelo escritório Piratininga Arquitetos Associados. Um deles abrigada a biblioteca central, o outro o ambulatório de fisioterapia da universidade. Implantados perpendicularmente, ambos são unificados por uma esplanada comum.

Apesar da proximidade física e temporal na execução das obras, a contratação dos projetos não foi simultânea: dois meses depois que o Piratininga venceu a concorrência para a biblioteca, a instituição encomendou ao escritório o outro trabalho.

A utilização de elementos pré-fabricados – lajes, estrutura, fechamentos –, escolhidos por questão de prazo e custo, é a característica mais marcante dos edifícios.  No caso da biblioteca, decorreram oito meses entre o início do projeto e o final da obra; no ambulatório foram seis.  O prazo das obras era o início do ano letivo de 2005.

Entretanto, o grande fator que aproxima e distancia as duas obras é a pré-fabricação, pois enquanto o prédio da biblioteca em estrutura de metal, no ambulatório ela é de peças pré-moldadas de concreto. “A escolha mostrou-se tão acertada que, durante a seleção dos demais componentes construtivos, todos os elementos encaixavam-se, como um jogo de montar”, conta Renata.

A coincidência das contratações possibilitou que os dois edifícios configurassem um conjunto, com grande unidade entre si – cada prédio é uma ala da implantação em L. Externamente, contribuem para a integração os fechamentos em placas de concreto pré-fabricado.  As duas propostas também possuem poucas aberturas, no entanto, é a esplanada comum, com piso elevado de placas de concreto, que fortalece a leitura do conjunto.

Junto à biblioteca, parte desse embasamento é ocupado por um pavimento, que abriga espaços de uso exclusivo, como acervo depositário e apoio à pesquisa. Uma circulação interna liga os andares superiores do acervo e os ambientes sob a base.

 Embaixo dessa esplanada fica também o auditório, que possui acesso externo e pode ser utilizado de forma independente. Seu formato triangular lembra o desenho feito para o Museu Brasileiro de Escultura, projeto do qual José Armênio de Brito Cruz (do Piratininga) participou.

Além dos espaços mencionados, a biblioteca ocupa outros dois andares e um pilotis. Este é ocupado com acesso principal e setor de controle de empréstimo e devolução das obras. Espacialmente a solução utilizada lembra o Masp, projetado na década de 1960 por Lina Bo Bardi. Entretanto, do ponto de vista estrutural, ambos possuem soluções diversas, tanto pelo tipo de material utilizado como pelo desenho. Porém, assim como o museu, a biblioteca revela um tour de force estrutural.

O edifício com planta pavilhonar está apoiado em quatro núcleos de pilares de concreto. Lembrando grandes mesas, cada um destes é composto de quatro pilares agrupados dois a dois em pórticos ligados por lajes delgadas.

Segundo Renata, nos primeiros estudos realizados seriam quatro pilares maciços, que, no decorrer do projeto, foram perdendo massa, resultando em uma forma que representa o essencial - em termos estruturais.  Assim, o resultado formal de cada núcleo corresponde à massa necessária para a carga estabelecida.

Os núcleos de pilares trabalham em pares no sentido longitudinal, de forma a apoiar a peça metálica que estrutura o bloco suspenso. Tal estrutura é formada por dois pares de treliças paralelas situadas no segundo piso da biblioteca, ao longo da maior dimensão do volume. O piso inferior do bloco suspenso é atirantado às vigas treliçadas, assim como o do Masp.

As estantes estão apoiadas nessas duas grandes estruturas paralelas. “Conceitualmente, qualquer biblioteca é estruturada por suas estantes, ou, no final das contas, pelos livros. Neste projeto, isso também vale no sentido físico e espacial”, observa a arquiteta.

No prédio, que é quase hermético, infelizmente o desenho estrutural é pouco perceptível, pelo menos em sua plenitude. Do lado de fora não se vê a estrutura metálica; internamente, ela fica um tanto escondida pelos livros.

Na face exterior os painéis de concreto estão paginados com altura dividida por três, conforme o número de andares. Os pisos são interligados visualmente por um vazio central. A iluminação se dá por lanternim e a ventilação (permanente) é realizada através de aberturas nas lajes, que permitem – através das grelhas – a entrada de ar, que escapa pela cobertura. Esse fluxo pode ser interrompido pelo fechamento da saída do ar.

Apenas as duas extremidades menores possuem aberturas com janelas.  Na face norte, com insolação mais agressiva, o caixilho está recuado; na oposta, ele está rente à projeção do edifício.  Os 2.400 metros lineares de estantes podem ser aumentados para até 5 mil. O aumento pode ser feito através da inserção de novas prateleiras e sem obras.

O ambulatório de fisioterapia, em contrapartida, foi estruturado com peças de concreto armado pré-fabricadas, com vão básico de 10 x 7,5 metros. Ele não possui pilotis e foi dividido em quatro pavimentos.  Por causa do pé-direito necessário para a piscina, a divisão interna entre as lajes é diferente entre o primeiro e o segundo pisos, sendo que o último é formado por uma espécie de mezanino.

O prédio também possui planta retangular, mas nas duas laterais menores estão posicionadas as áreas de apoio.  Um dos elementos de destaque é o volume complementar em vidro ocupado, pelo conjunto que rampas que interliga os quatro andares.  Na fachada oposta a ele, o prédio é marcado por pequenas aberturas horizontais recuadas, cujo requinte é a paginação das placas de fechamento.

Para fortalecer as peças, devido a sua dimensão, foram necessárias placas de concreto em L, cuja face menor dobra-se na direção interna e possibilita o caixilho recuado. Internamente, as divisórias possuem 1,8 metro, o que permite privacidade sem excluir a circulação cruzada, pois na biblioteca não há  ar- condicionado, por uma questão de custo.

Texto adaptado da revista ProjetoDesign de Outubro de 2005.

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