ORDEM E ESTRUTURA
"Marco Polo descreve uma ponte, pedra por pedra.
– Mas qual é a pedra que sustenta a ponte? —pergunta Kublai Khan.
– A ponte não é sustentada por esta ou aquela pedra —responde Marco—, mas pela curva do arco que estas formam.
Kublai Khan permanece em silêncio, refletindo. Depois acrescenta:
– Por que falar em pedras? Só o arco me interessa.
Polo responde:
– Sem pedras, o arco não existe."
Esse trecho extraído do Livro “Cidades Invisíveis”, de Ítalo Calvino, retrata com precisão a ideia do que é “estrutura”: interligação indissociável entre matéria e forma.
Qualquer construção é produto de uma “Ordem” que se manifesta pela repetição de eventos, provocando um ritmo e induzindo à harmonia. Para os antigos gregos, a ordem, “Cosmos”, se contrapunha ao “Caos”.
Nada pode ser construído sem uma ordem estrutural. Nem mesmo o discurso ou, menos ainda, o pensamento.
Todos os eventos que ocorrem no Universo estão interligados, seja na natureza, no inter-relacionamento entre as pessoas ou, até mesmo, no pensamento e na criação humana. Tal relacionamento se dá através de estruturas responsáveis pela construção e dinâmica de cada elemento ou grupo de componentes. Quando falamos em estrutura, nos referimos aos limites físicos por ela estabelecidos que, desvendados, podem nos levar à origem das formas. E o que é uma construção senão uma “Ordem”? Toda ordem se viabiliza a partir de uma estrutura que dá unidade aos elementos construtivos proporcionando fenômenos e identidades diversas.
Algumas estruturas dependem do movimento, relação entre tempo e espaço, para cumprirem seu papel. As formas espiraladas, por exemplo, são indícios da existência desses fenômenos transitórios que se utilizam dessa organização para “cumprir dois posicionamentos espaciais ao mesmo tempo”. Tal evento pode ser compreendido, também, por meio de uma dialética estrutural formada pela resultante entre dois elementos que, ao se complementarem, formam um terceiro.
O encanto das estruturas, principalmente as da natureza, provém dessa poética estrutural que conduz eficazmente a energia pelos caminhos da matéria. Já, o que sai do rigor da ordem previsível pode trazer o que os gregos chamavam de “Graça”- que implica na diferença, na identidade de cada ser e possibilita que haja os relacionamentos necessários à vida. Porém, não pode-se sair da ordem sem que ela exista.
Roberto Alfredo Pompéia