Projeto complexo, Century Plaza exigiu criatividade dos projetistas. Com edifícios escalonados, estrutura regular nos primeiros pavimentos transita para dimensões e formatos diferentes à medida que os prédios sobem.
A aquisição de um terreno de 200 mil m² e o desenvolvimento do condomínio Green Valley marcou a entrada da Brookfield Incorporações em Alphaville, em 2001. Foi em 2011, com a construção do Brookfield Century Plaza Commercial, que a empresa se posicionou na região.
A construção exigiu soluções criativas dos protejistas, pois o programa arquitetônico era extenso. Previa a construção de duas torres com 754 unidades, que variam de 36m² a 7,4mil m², 23 elevadores, lojas, restaurantes, cinemas, academia e supermercados em um terreno de quase 10mil m² com variações de altura de 8m a 35m. Tudo isso, sem alterar a área verde que se encontra em toda a extensão do empreendimento.
“Para acomodar uma estrutura de grande porte nesse terreno, tivemos de projetar uma área útil oito vezes maior do que a dimensão da área do terreno. Para isso, a solução foi apostar em uma composição de forma escalonada.”, explicou o arquiteto José Lucena. O projeto foi recheado de desafios, devido à profundidade do terreno e ao solo de comportamento heterogêneo de Alphaville.
Inicialmente projetado para ser executado em estaca Franki, todo o projeto de fundação teve de ser revisto, quando as escavações começaram. A presença de rochas em alguns pontos do terreno, também foi um empecilho. Ao todo o sistema de fundações levou um ano e meio para ser feito e consumiu 11mil m³ de concreto.
Sem protensão
O projeto estrutural partiu da premissa de evitar o uso de protensão. Escalonado e circular, o bloco A possui a forma mais complexa de toda a edificação, para estruturá-la optou-se por uma forma triangular, com pilares circulares dispostos de forma estratégica de modo a evitar transições ao longo dos andares. Vigas de concreto armado de grande vão correm para os pilares, formando leques.
Os encontros entre diversas vigas concorrentes e o pilar de sustentação foram desenhados um a um. “Para que tudo pudesse acontecer de forma adequada, aumentamos a resistência do concreto dos pilares para 50 MPa com o objetivo de baixa a tava de aço e melhorar o detalhamento desses encontros”, relembra o projetista Francisco Graziano.
Garantir a repetitividade das soluções estruturais ao longo dos 27 andares desse bloco foi outro desafio, pois toda a estrutura é curva e bastante complexa, então a saída foi escaloná-la.
Já o bloco B é responsável por absorver grande parte das cargas de vento das demais torres, por isso possui uma estrutura de pórticos mais simples e regulares. Os 36 andares que compõem esse edifício são conformados por pilares retangulares e vigas de concreto de 60cm de altura e 8m de vão, com lajes maciças. “Nos andares-tipo, temos linhas de quatro pilares, sendo que os do meio separam o corredor de circulação e os conjuntos, que ficam de frente um para o outro”.
A opção para não prejudicar a área útil do edifício foi a de usar pilares com transição de forma. A partir do térreo 1, cada conjunto de dois pilares dos andares-tipo se transforma em um único elemento estrutural.
Pilares
Sobre a cobertura desse bloco foi construído o heliponto. Para sustentar sua estrutura foram utilizados pilares mão-francesa. Estes avançam sobre o vão de ligação do bloco A com o B, onde há uma junta de dilatação ao longo de todos os andares-tipo.
Estruturas Metálicas
Os blocos A e B se interconectam a partir dos 10º e 13º andares, respectivamente, por uma estrutura metálica, que conforma um novo bloco (D) de 21 pavimentos, formando uma extensão de área do edifício Corporate, onde se faz o acesso a torre. O desencontro entre os andares de ligação se dá em função das diferenças entre as alturas dos pés-direitos dos dois edifícios.
Sob o bloco intermediário se alojam o lobby e o acesso aos dois andares do shopping. Ali também foi executada uma sequência de duas passarelas permitindo que, a cada três andares aconteça uma ligação entre as torres C e D. Entre essas passarelas foram dispostos caixilhos com 12,5m de altura com o intuito de proteger o lobby principal da chuva.
Por conta da altura estrutural das vigas em concreto armado e da necessidade de executar um escoramento tão alto, a execução de uma laje de concreto no primeiro pavimento foi totalmente descartada. Optou-se então, pelo uso da laje steel deck, solução autoportante que permitiu vencer vãos de 11 a 14m. “As distâncias dos vãos variavam, porque as duas torres não estão alinhadas e formam um ângulo de aproximadamente 9° entre eles”, explica Renato Gioielli, diretor da Grupo Dois Engenharia, empresa responsável pelo projeto de estrutura metálica.
Todos os demais pavimentos do bloco D foram executados com vigas mistas, de aço e concreto e lajes moldadas in loco(pré-fabricadas). A opção pelo vigamento metálico nesse bloco se deu pela leveza e altura estrutural da solução. “As vigas metálicas pesam 1,1t e possuem altura estrutural de 53 cm, enquanto a solução de estrutura pré-moldada de concreto pesaria 9 t e representaria praticamente o dobro de altura em relação à estrutura metálica”, compara o projetista.
Além dessas premissas, outra restrição para o uso do concreto na execução desse bloco foi a diferença de deslocamentos entre as torres. “Como os blocos B e D não são paralelos e não têm continuidade ao longo de sua altura, era muito difícil definir as variações mínimas e máximas entre eles. Por isso, o projeto estrutural optou por não travar um ao outro”, explica Gioielli. A solução, então, foi fixar a estrutura metálica na estrutura do bloco D e apoiar sua junta de deslocamento no bloco B, de modo que o sistema absorvesse o deslocamento diferencial entre as torres.
Este aparelho de apoio permite 12 cm de variação e possui uma espécie de freio de segurança, impedindo que a variação das torres de deslocamentos seja limitada. “Dessa forma, é possível evitar que a laje metálica perca o seu apoio e a estrutura entre o colapso”, conta Gioielli.
Devido à diferença de alinhamento das torres, os freios tiveram de ser dispostos nos dois sentidos do plano da laje. “As vigas metálicas e as lajes do bloco D também tiveram que prever em seu dimensionamento os esforços adicionais no plano das lajes que poderão acontecer quando os freios forem ativados”, observa Gioielli.
Como as vigas dos dois principais blocos não concordavam entre si, a solução foi usar os vigamentos de concreto da torre B com alturas diferentes, de modo a compensar a diferença de nível em relação às vigas da torre corporativa. “Nessas vigas de concreto com alturas diferentes foram dispostos os consoles para apoio da estrutura metálica”, completa o projetista.
Texto adaptado da revista Téchne 172- Julho de 2011
Cliente: Brookfield
Arquitetura: José Lucena Arquitetura
Construção: Brookfield
Local: Barueri - SP
Data: -
Área Estruturada: -
Projeto: -
Revista: TÉCHNE 172 | JULHO DE 2011